domingo, 9 de janeiro de 2005

Como eu vi o Derby - Três Minutos Fatais

Parece contraditório, mas o Sporting foi melhor com dez. Inicialmente em 4x4x2 – um sistema que tive de estudar para de-senvolver, no qual a disciplina táctica assume preponderância para a ocupação equilibrada. Com 11 jogadores, Carlos Martins e Rochemback actuaram no mesmo espaço e o Sporting não teve um vértice lateral para oferecer largura ao jogo, não teve um vértice ofensivo no seu meio-campo, enquanto que Custódio, livre, não encontrava linhas múltiplas de passe para que, quando de posse de bola, se sentisse de facto que havia superioridade numérica no meio-campo.

Com a expulsão, a equipa jogou com um só atacante, disciplinou o seu posicionamento no meio do campo, teve "pivot" defensivo, teve dois interiores, e Carlos Martins, entre as linhas defensivas e média do Benfica, foi referência nas saídas para o último terço. Controlou o jogo mesmo em inferioridade numérica, marcou em igualdade.

Momento 1 – a expulsão de Rui Jorge. O Benfica – ao contrário do que já ouvi e daquilo que seguramente se irá escrever – não teve falta de ambição. Teve falta de qualidade. Para se ter ambição tem de se ter confiança; para se ter confiança tem de se ter qualidade.

Penso que Manuel Fernandes, para o presente do Benfica e para o seu próprio futuro, se deveria especializar e jogar como "pivot" defensivo. O Benfica não controlou os ritmos do jogo, não o dividiu, retirando a bola de um meio-campo ocupado, e por isso a iniciativa e o arrastamento do jogo para o terço ofensivo não aconteceu.

O Benfica não conseguiu explorar a velocidade de Simão, por deficiente construção nas duas primeiras fases, o que não proporcionou ao seu mais talentoso jogador situações de um para um ou diagonais interiores.

Por vezes, o trinco tem como qualidade principal a sua capacidade de marcação ou de recuperação; por vezes, o controlo defensivo começa com a definição dos ritmos de jogo e controlo da sua posse. Manuel Fernandes jogou a espaços e como "pivot" tem papel mais marcante no jogo.

Para alimentar a esperança de todos aqueles que como eu têm saudades de Mantorras, vimos-lhe dez minutos a pedir mais e que Deus o ajude.

O momento 2 foi a expulsão de Alcides. E os três minutos sem outro central foram fatais para o Benfica. A resposta e a adaptação não foram imediatas, Ricardo Rocha era o único central; Argel entrou um minuto mais tarde. Num campeonato cheio de "experts" em "inteligência malandra", ninguém teve a capacidade de liderança para "parar" o jogo e obrigar a substituição/entrada do central brasileiro para equilibrar posicionalmente a equipa.

No "flash interview" ouvi falar de quebras físicas e logo dei por mim a pensar que a minha cruzada vai ser mesmo difícil. É que não consigo mesmo que se perceba que isso não existe. A forma não é física. A forma é muito mais que isso. O físico é o menos importante na abrangência da forma desportiva. Sem organização e talento na exploração de um modelo de jogo, as deficiências são explícitas, mas pouco têm a ver com a forma física. E os nossos comentadores/repórteres, como quase sempre, continuam a influenciar negativamente a opinião daqueles que, em suas casas, precisam de ser orientados na sua capacidade de absorção ou entendimento do jogo.


Autor: JOSÉ MOURINHO
Data: Domingo, 9 de Janeiro de 2005

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